Fala, Galera! Hoje vamos falar sobre uma nova
forma de combate à dengue, não só à dengue, mas também à malária, que em nossa visão
será revolucionária e, inclusive, tem um dedinho de nossos pesquisadores
brasileiros.
As doenças transmitidas por mosquitos vetores como dengue e malária causam enorme impacto na saúde pública mundial. O controle é predominantemente voltado para a aplicação de inseticidas contra o mosquito adulto como também a utilização de mosquiteiros. No entanto, os métodos atuais de controle muitas vezes não são sustentáveis por longos períodos por causa da resistência aos produtos químicos. Neste sentido, a descoberta e aplicação de métodos alternativos são de extrema importância. Uma nova abordagem para o controle biológico de doenças transmitidas pelos mosquitos tem sido recentemente proposta que utiliza uma bactéria endossimbiótica (Wolbachia pipientis), a fim de interferir com a transmissão de patógenos.
Mosquitos com Wolbachia no insetário da Fio
Cruz
A
importância de se utilizar essa bactéria é que fêmeas infectadas possuem
uma vantagem reprodutiva por causa de uma incompatibilidade citoplasmática
(IC), o que leva ao aumento de indivíduos infectados. Quando mosquitos Aedes
aegypti foram transfectados com Wolbachia descobriu-se que a presença da
bactéria inibia a replicação de patógenos, como os vírus da dengue e da
febre Chikungunya. A introdução de uma cepa da bactéria Wolbachia pipientis
causa redução na longevidade do mosquito. Como o período de incubação
extrínseca de viroses e parasitas dentro do mosquito A. aegypti é longo
(cerca de 15 dias), em comparação com a longevidade do inseto (cerca de 30
dias no campo), a infecção por Wolbachia poderá diminuir a transmissão por
patógenos sem eliminar a população de mosquitos (Brownstein et al., 2003;
Rasgon et al., 2003; Sinkins e O’Neill, 2000). Mosquitos contendo essa cepa apresentaram
cerca de 50% da redução na sobrevivência das fêmeas em comparação com as
que não a continham. Além do efeito na longevidade do inseto, uma grande
surpresa foi descobrir que a presença da bactéria nos mosquitos aumenta a
resistência dos mesmos aos patógenos.
As
Wolbachia são bactérias gram-negativas, obrigatoriamente intracelulares, que
manipulam a reprodução do hospedeiro para garantirem a transmissão vertical
(de mãe para filhos) (Sinkins et al., 1997). Nas últimas décadas a bactéria
Wolbachia foi amplamente encontrada infectando diferentes espécies de
invertebrados, com maior número de relatos entre os artrópodes como os
insetos, estima-se que cerca de 65% das espécies de insetos estejam infectados
por essas bactérias, infelizmente o A. Aegypti não é uma delas. Em uma
estratégia para garantir a transmissão vertical, a bactéria manipula seu
hospedeiro de diversas formas como feminização, morte de machos,
partenogênese e com o mecanismo de incompatibilidade citoplasmática, assuntos
que serão discutidos em postagens posteriores.
A seguir, fotos de microscopia mostram tecidos do Aedes aegypti em situações de presença e ausência da Wolbachia. No Aedes comum, ocorre a infecção com o vírus da dengue (pontos vermelhos, na imagem à esquerda). No Aedes com Wolbachia (cor verde, na imagem à direita), o vírus não consegue se estabelecer.
Por enquanto é só, galera. Até mais, boa
leitura e desculpa pelo atraso.
FONTE:
DA SILVA NETO, Mario Alberto Cardoso; WINTER,
Carlos; TERMIGNONI, Carlos (Ed.). Topicos Avançados em Entomologia Molecular:
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular. Itabajara
da Silva Vaz Junior, 2013.